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sábado, 31 de outubro de 2009

Entrada.



eis que surge um grupo de pogonóforos,
experimentalistas por lei, eis que urge
na pátria da poética literatos turvos

que se humedece todo o chão de triste
e esporádica agonia, nas táteis de vênus
eis que surgem ninfetas e salamandras

renasçendo na liga dos frutos perdidos
e a bebida que os grita é o mantra do dia,
logo, eis que surgem os loucos
e desvairados

da noite pro dia, ante ainda de tragar
a primeira taça, na tasca mais fria,
sem eletricidade, todavia,
na casa mais erótica da virada

no câncer irrecuperável do amor de amante,
na segurança maléfica de um restrito sempiterno,
mas, sim, eis que surgem planos noviços
cheirando a terra de literatura e vinho.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Meus dejavus, incessantes:
amigos de todo ódio e tédio.
Queriam-me mais triste
que já é in natura o meu ego.

Letícia, meu novo vocábulo,
nada mais é que um encanto:
não é adjetivo, não é verbo
- é só o gozo de novo canto.

Minha voz surta ao chamá-la,
todos meus queridos afetos.
As cordas roucas, desalmadas,
maculam-lhe a rubra face
- em puro sinal orgástico.

Não gastaria, no entanto,
meu sêmem a fecundar-lhe
as mais críticas carícias
quais abriga sua tímida vulva.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Alguns são felizes com as árvores que plantam.
Outros são apenas sorrisos, medos e desejos.
A verdade é que a dor não mata, mas vive.
E outra verdade é que eu não sei nada.
[mas essa última é desnecessária.

A sorte não é algo que vem pra todos.
Parece-me só ser dos sortudos.
Não sou redundante, não confunda.
Sou apenas mais um amante moribundo.

Não deveria sair, em letras, toda verdade.
Ou a necessidade de um homem que sente.
Mas os dedos roubam ao coração a mácula.
E as palavras desviam o medo que o olhar
[insiste em acidular.

Vivo, então, pelo medo que sinto.
E morro pela dor que sinto.
E amo pela dor da que tenho medo.
E tenho medo do sentir que amo.

Resumem essas palavras, portanto,
toda a simplicidade expressa em alma.
A simplicidade à qual todo esse texto expia:
vivo por que a poesia existe.
[e, por existir, deixo me ser patético.
Pra quê o amor,
se amar é o que vale?
Ocultemo-nos à margem da tristeza
e imploremos ao amante a piedade.

Quando o furor da carícia rompe
o tênue limiar do desejo,
a vida, a morte, o mundo se escondem
por detrás dos panos de fiel ensejo.

Eis que é chegada
- da vida - a hora mais tardia.
Desaparecem todos os prazeres:
do amor à tristeza, do sexo à alegria.

Ao pó não retornamos
quando a doce mão que nos afagava
agora segura a dura alça do caixão
pelo qual um dia todos velamos.

sábado, 10 de outubro de 2009

Meu caro e velho amigo,
As égides do armagedom
pairaram sobre nossas cabeças
fio a fio dos compridos cabelos.

Mas os pés, como em pegadas,
entrelaçaram-se em assaz rastros
e não permitimo-nos a transcedência
a esse algo que se chama banalidade.

Seu ósculo esquecido é o qual lembrado
entre tantos outros ósculos perdidos
que agora tangem a minha tez.
Tempos longíquos de normalidade.

No âmago de tamanha pureza,
a putrefação de carnes alheias.
No serpenteio de minha tristeza,
um coração bate distante.

Se Vênus arrastou-me a si
e concedeu-me a maldição
de tão profunda mágoa,
agora clamo-lhe, irmão
[que aqui termino em ão
[a mácula de mal-sucedida anáfora.