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sexta-feira, 14 de maio de 2010

Quando venho de longe
para mais perto do distante
minha mente suspira
em espasmos de cruéis indelicadezas.

É que o passado a habita
e tal é um habitante assaz:
furta ao inquilino todas as horas
- furta todo o sono do dono.

Quando passo por todas estradas
que já passei, olhei ou cheirei,
sinto meus nervos distantes,
viajantes de outras dimensões.

É que todos os lugares os habitam:
os pássaros de Correntina,
os amores de Juazeiro,
as cachaças de Petrolina.

E logo quanto tudo em minha volta
parece tão distante, alheio e confuso,
é que vejo, num toque frebril de retina,
toda a simplicidade desse mundo.

É que nada o meu coração habita
- e ele vive se perdendo no cada e em tudo.
É que lugar nenhum é o lugar
que a minha mente habita.

domingo, 9 de maio de 2010

Asmáticos pensamentos que habitam meu consciente,
libertem-se da jórnea que os torna tão inquietos
e ganhem o mundo,
as mundanas
e toda a cafeína.

Ganhem todo e qualquer resquício de sobriedade
para depois atirá-los fora como alguém que se desfaz
do lixo cotidiano,
dos vãos amores,
das inclassificáveis palavras.

Desclassifiquem de si a alva e santificada gramática
que nos faz escrever assim tão erroneamente:
tornem-na puta,
escrava da libidinagem,
mortal e humana.

Desbravem terras aquém dessa que nos reveste a vista:
pasmem por entre os jazigos cheios de escombros vitalícios
trazendo a mim
toda a ciência
dos microorganismos
que putrefazem a carne,
terrificam a atmosfera dos ares
e nos levam em alma ao paraíso
- ou o que quer que venha postumamente.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Não hei de fazer do meu verso
essa prosa infernal que aprisiona,
tortura e dilacera os ufanismos
das mentes extra-terrenas.

Todas essas letras que nos cercam,
ainda que carreguem em si
a mais pura ciência dos fatos,
são d'agora vis e enfadonhas.

O que vale, meus senhores errantes,
é a palavra que se perde ao sair do ser.
Não aquelas que vêm de fora
e tangenciam o cerebelo coordenadas.

Mais valem agora, até as seis da manhã
e o cabaré da próxima esquina,
as experiências de vidas tolices,
embasbacadas, alheias e indomáveis.

Mais valem agora, até as dez da noite
e o perdão da esposa que descansa,
os perjúrios de amor à meretriz
que agora possui maculado, o ventre.

Mais valerá o bom entendimento
do ladrão que outr'ora o aguardara
que o sorriso fecundado postumamente,
ostentoso e perdulário de piegas fanfarronices.

Hei de fazer, eu, uma sétima estrofe impetuosa
- que transgrida as barreiras de todo o escrito
e transcenda à quimera dos sonhadores.
Hei de cantar o amor, que se faz em verso e prosa.

E o sétimo estará também na oitava.
Na perfeição das sonoras notas.
Na melancolia dos dias.

[no vazio d'aqui.