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terça-feira, 29 de novembro de 2011

Nasceste de imundo ventre
- da natureza de toda essa gente
que não sabe viver de verdade.

Viveste a vida mundana
da maneira mais pérfida e profana
com a que maculaste teu pobre seio.

Foste na vida a verdadeira vadia
das horas tristes e sombrias em que a poesia
deixa de existir e abre mão dos mortais.

Ainda assim sobreviveste
e numa noite de quaisquer estrelas
foste ao encontro dos olhos meus

e com o teu busto ateu
é que me convenceste
que a verdade está ao contrário.

Nasce em meio à putrefação humana
a mais bela e cotada dama
que humildade aos homens proclama.

Aflora com odores celestes
o amor com o que, sem pesar, me destes
todo o prazer que cabe numa noite.

Persistem, por entre todas as feiúras,
os cabelos e o olhar mais lindos que existem
envolvidos em divina ternura.

Morre do sangue mais vil
e da doença de amor mais febril e venérea
mas não é puta - mais é santa.


Venérea III

domingo, 20 de novembro de 2011

Um grito no escuro e ninguém te ouve
o que é que houve?
Um grito no escuro e ninguém soube
- tá tudo podre.

Você se assusta na rua
mas não há nada
que possa fazer
está perdido.

O que vai ser?
Será um rato
ou será mendigo?
Está perdido.

Não há mais chances
- só o abafo
do golpe desumano
que lhe traga a chama da vida.

Não é do verbo trazer
essa indelicadeza
é do verbo morrer
- pura certeza.


Um Grito no Escuro