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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Não se sabe do verso o que peço
nem do que se ama o que é.
Se o sentimento extinto se faz regresso
ou se todo samba acaba no pé.

Não se sabe das coisas o início,
'inda muito menos se sabe seu fim.
Se o começo de tudo é só um resquício
d'outro princípio que terminou assim.

Não se sabe das mulheres todo o encanto,
nem todo pranto de quando a noite cai.
Se seu melindre é verdade de santo
ou se sobre a cama todo ele se esvai.

Não se sabe do amor a existência
nem das suas formas a que é mais reta.
Mas se sente no peito a consequência
do torpe amar que inócuo desperta.

Não se sabe de todo poeta a loucura
nem se a poesia, por si, já não é direita.
Mas é de se notar as falhas da moldura
que distingue o quadro são da parede imperfeita.

Não se sabe do rio a verdade das dóceis águas
que desembocam misteriosas no tempestuoso mar.
Apenas que, doce ou salgada, é histérica a mágoa
que pulmões cheios d'água podem aos olhos causar.

Não se sabe destes versos a veracidade
nem mesmo se, de fato, a verdade existe.
Se estas mentiras corrompem seus olhos pela claridade
ou se são as trevas que culminam nesse ponto triste.


Amor Livre,
Recife, 6 de Dezembro de 2010, 23:10h.

Um comentário:

José Airton disse...

Muito bom, meu caro!