Páginas

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Soledad me deixou no ponto de embarque.
Disse que me embarcaria com saudades
e levou afora todas as carícias que tinha:
- Se for doer, que passe logo.

Minhas cartas, minhas castas, minhas velas,
Soledad levou embora nos braços dela
todos os melindres, inquilinos de meu peito
e me deixou sozinho, paranóico, desse jeito.

Que seios, que bunda, ela tinha e eram meus,
que mesmo sabendo do meu posto de plebeu,
Soledad não me negava o mais blasfemo afeto
e deitava-se sob meu peito, seu gesto predileto.

Morrer de prazer, seria, no céu aquele gozo
se seus cabelos longos prendiam-me o pescoço
e os suspiros mais profanos suspirava, desvairada.
Soledad, que mulher, trocou-me por um cabo de enxada.

Ao virginal trepidar, minhas púpilas em seu rosto
já diziam o que queriam: aquela santa em carne e osso.
Seu sorriso me despia em pele e pêlo - alucinado
o coração ardente batia em sinal de apaixonado apelo.

Virgem de mil heresias. Eu - maldito profeta -
para o inferno, um caminho longo trilhava
que sinto a brasa viva ainda em terra
do maldito amor que Soledad me amava.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Ah, solidão, que me quisera só contigo:
Em teu peito sou mais homem.
Em peito de mim, homem, farás teu abrigo.

Que de corpo de um menino, singelo e fraco
Tornas o mais vil nobre homem
- que a dor de ter só a ti consome.

Não lhe peço mais que a companhia, amiga.
Não lhe oferto somente o corpo e mente.
Entrego-lhe de peito aberto todo o sujeito.

Desse eu que não sou mais sem ti,
penso que também não és sem mim.
Viveremos felizes, porém, ao expirar.

O prazo que consome a cada dia, menina,
o corpo frágil, a mente incrédula, a peste viva.
Vives em mim, d'alma e corpo.

Renego-lhe todas as injúrias humanas
e as perfídias das mentes sensatas que iludem
o mais valioso senso de amor ao próximo.

Queixo-me, entretanto, das horas em que desapareces.
E que pareces me deixar solteiro, homem vão
e vão mais mil horas a desatinar em meu tempo.

Minutos passados, corridos de dedo em dedo.
E até sem dedos tanges o âmago do meu ser
Serei eu minha própria infâmia, amada minha?

Dispensa as explicações aos sãos mortais
que a morte não tarda em chegar-lhes, minha cara.
Então seremos apenas nós dois - solitários.