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quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Vanessa entrou e pairou
seu olhar de jovem ninfa
no meu mais pueril
suspiro de ardil amor.

Não viam, meus olhos infantis,
o ardor de todo aquele corpo
que contradizia meu pesar piegas
com curvas cheias de gosto.

Brincávamos de ser o que éramos:
eu, poeta, vivendo à sua autoria -
dos gestos e carícias que me cedia;
ela virgem, ela vadia, ela santa
[aos treze.

Vanessa saiu seca e insossa,
só como quem sai de um livro fechado
e a poesia que restou em mim cá está
em um texto frívolo, suado e desalmado.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Esqueci-me do início das coisas
e lembrei do seu término
antes mesmo que acabassem,
Pois os princípios não justificam
[as finalidades.

Atrevi-me a interceder por mim
sem esperar pelo julgamento final.
Pus-me a expiar todos os pecados,
quais tenho cometido desde que aqui
[cheguei.

Olhei-te as mais belas mágoas
e sanei de ti os amores passados.
Em troca deste-me uma lágrima
de cada um desses lindos olhos
[verdes-sacrílego.

Não anseio consternar em ti
o inflamado coração que foge
a todas essas letras infames:
é o que há de melhor em teu
[seio

para aqueles que não tangem
as róseas aréolas da santíssima
e se banham bem-afortunados
em todos teus líquidos sagrados.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Sou mesmo um cantador
das coisas do passado.
Escondo no peito um amor
quase infantil, descompassado.

Não faço mais que me pede
minha boemia poética.
E uso todo esse lirismo
para viver mais um instante.

As pedras não amam
e são infinitas.
Serei, entretanto, logo findo
com todo o sentimento que há.

A dor não será deles o último:
restará um punhado de desespero.
Sinto que me virá à última hora
atrelado ao choro, ao riso, ao menosprezo
[de todas as formas de vida.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Voaremos pelas nuvens,
flutuaremos tranquilamente
pelas águas mais límpidas
do mais doce riacho.

As crianças serão todas felizes,
brincando com seus felinos.
As mulheres não precisarão
mais de sexo.

Mas faremos assim mesmo,
por puro prazer.
Os homens não usarão cuecas,
muito menos precisarão de vasodilatadores.

E, ainda assim, dilatar-se-ão os vasos.
Por que a cada olhar surgirá um novo amor.
E as paixões crescerão descomedidamente
tais quais os versos desse feliz poema.

Cada ser vivo possuirá uma raça
e todos serão da mesma família.
Os filhos: tão queridos e desejados,
constituindo cada qual uma nova linhagem.

As pêras cairão dos sete céus
- cada um de uma cor diferente - que lindo.
Às vezes choverão maças dos véus vermelhos,
bastando apenas realizar-se uma prece.

Os deuses seremos nós mesmos
e obedeceremos todos às nossas leis.
O desejo será uno e crescente
crescentE, cresCENTE, CRESCENTE.

As noites virão descompassadas e lindas.
Tão linda será a lua a surgir
quando se bem entender.
Cada noite de uma cor diferente e mais bonita.

Apenas os seres mais loucos usarão roupas,
por serem partícipes de uma sociedade dessas...
de hippies, revolucionários, comunistas, marxistas.
Ah! Que linda essa tal de loucura.

A insanidade que faz com que esses corpos
tão macios e cheirosos, cubram-se.
A insensatez dessa gente que quer ser
assim diferente, assim de roupa.

Um dia me vestirei com esses macios tecidos
que nascem da terra como se fossem grama.
Mas só quando a loucura se apossar de mim
e estiver cansado de sentir o vento me acariciar
[pelas costas
[pelos cabelos
[pelo corpo inteiro.

domingo, 13 de setembro de 2009

A um eremitério
vou meu caminho trilhar.
Distante do sol, dos ventos
e de tudo que na terra há.

Adeus, Maria dolores,
adeus os meus tantos amores.
Sob os meus versos de angústias
deixo as lembranças e esperanças.

Até não ver mais, meus delírios.
Que os deuses habitantes do infinito
não se esqueçam do que se fez dia.
Que passado está presente no futuro
[da gente.

Virei agora em novo caminho
de passados presentes sem espinhos
e de um coração que não mais habita.
Agora inspira um novo ar.
[adeus terra
[adeus céu
[adeus mar

sábado, 12 de setembro de 2009

Oro de dia e à noite eu rezo.
Restam-me apenas poucas esperanças:
meu pastor fugiu depois que fecharam
o último brega.

Mas as portas ainda estão abertas.
Das janelas fechadas perpassam raios
de sol, de lua, de vento na bíblia.
Aos ratos caem todos os mortos.

Os joelhos veneram à cama molhada
de fluidos vaginais, etílicos e resquícios
de todos endométrios passados.
Foram rezados à toa, quiçá.

Mas não se esqueça de por o véu de volta.
Quando mirar a porta aberta direta
para a rua, finja que não está nua.
Para os outros, finja-se santa.
[após ter sido, para mim, satã.