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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Não posso negar que vim de onde venho
e não tenho a mínima ideia de onde vou.
Mas posso me opor à verossimilhança vital
que se abstém das perniciosidades do espírito.

Não que revele religiosidade, afirmando pernicioso.
Mas a espiritualidade das concupiscências da carne
é muito mais cruel e além que pode sonhar
o nosso auto-prazer masturbatório, quer seja
[anal
[vaginal
[escrotal

E por falar em escroto, qual palavra escrota
essa tal de concupiscência!
Não sei se está certa, a grafia,
a caligrafia, a orgia, a caristia.

Profano! - profano, digo eu, - profano!
Ou português ou gramática negra:
dize a esta alma entristecida se verá
outra outr'ora perdida entre hostes celestiais.
[disse o corvo: nunca mais.



Nunca mais.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Vem, estrela da última hora.
Cala em mim o teu luxurioso escândalo
que se despe entre três ou mais bibelôs.
Sacia de ti toda a ganância da impureza.

Vem, antes que a lerdeza das horas acabe
e o céu fique mais claro que meu desejo
de possuir-te e embranquecer teus lábios.
Antes que se fechem as portas do cabaré.

Ainda antes que o meu amor de duas noites se esvaia
por entre outros ventres menos desejados, menos avultados,
menos maculados e menos dilacerados que o teu.

Careço que venhas antes que meu violão se perca
nas notas das outras noites que vivi pelo desejo de ti.
Vem, antes que o meu dinheiro acabe.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O estratagema do universo paira sobre mim:
infâmias refeitas em carícias e gestos.
O tal sentimento se perdeu no mar-sem-fim
- talvez escondido na melodia dos versos.

O piegas d'outrora foge ao libidinoso vadio
e as doces falenas ainda habitam meu coração.
Não mais os restos de alimento presos aos dentes
- como a finda paixão que deixa resquícios espermáticos.

O universo, no entanto, ainda se expande
como quem não tem nada o que ver com isso.
As estrelas nascem, brilham e morrem
mas o sol persiste em sua teimosia luminosa.

E o pulso cardíaco desobece ao instinto vital:
pulsa por bater, pulsa por morrer, por querer.
Mas não pulsa, meu obsequioso ruminador,
não pulsa pela em si razão de viver.