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domingo, 22 de janeiro de 2012

Meus olhos não se enganam:
eles sabem que é você
o motivo por quem tanto reclamam
que ainda não te podem ver.

Os meus pés estão sempre certos
e eles seguem os teus rastros
mesmo em meio ao campo aberto
são sobre os teus os meus passos.

Meu falo por ti fala
ansiando por teu ventre
quando a noite vem e me cala
não é o teu fogo que ele sente.

O tempo é sábio e não pára
mesmo quando estás ausente
com ciência de que virá a hora
de que em ti serei presente.


Patientae

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Uma nota à toa soou do violão
quando eu o levantei pela mão
dizendo que o dia estava vazio
e quem me viu debochado nem riu

de minha piada inane
de meu gesto imóvel
de meu olhar tardio
de minha face decrépita.

Foi por desatino,
foi por desengano,
foi por injustiça mesmo
foi-se mais um ano.


Lira dos 21.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Olhos pelo avesso
- está tudo acabado.
Se bem que onde termina
também recomeça o pecado

que a pele inflama a chama
e de novo reaquece
quem de comida requentada carece
e recome o que já havia deglutido

n'outras tragadas já esquecidas:
razão de parecerem ser novas
as velhas ações jazidas
nas mais diversas camas

e em lençóis tão velhos
e tanto, tanto esquecidos
que nem mesmo o tempo lembra
de o crime ter acontecido.


Amar é Crime

domingo, 8 de janeiro de 2012

Poesia passional
seja elevadíssima ou carnal
começa sempre
na cabeça do pau.

Mas não é como esperma
que expira após o gozo
pois vive eternamente
após esporrada no olho.

Nem é como urina
que começa pela boca
em uma indelicada sina
pelo corpo até a uretra.

Muito pelo contrário:
desenvolve-se trás-pra-frente
fazendo qualquer otário
suspirar como um demente.

Vai-se subindo pelas tripas,
contaminando todo o corpo,
macula um pulmão e depois
fode com o coração.

Tem-se de ser escroto
para suportar a malfazeja
que tortura o corpo todo
e só sai pela cabeça.

De dor, é um processo excessivo
pois mesmo depois de muito tempo
a escrever em tamanho desalento
sempre resta em mente um vestígio.


Poesia Passional