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quarta-feira, 29 de julho de 2009

Foi a resposta que me fugiu à mente,
contrariando o mais pródigo desejo.
Mesmo hoje me arrependo arduamente
de não ter aproveitado o ensejo.

Arrependo-me como homem que não sou:
nessas horas sou só aquele menino
em que causas o susto repentino
de ter à boca o alvo leite materno.

Foi-se o poeta embriagado
desse dourado que são suas madeixas.
Restou agora o cético sóbrio
amargurado, chato, de tantas queixas.

As vezes da vida voltaram-se ao criador
e pediram-me que esquecesse de ti
todo o teu resplendor
- ah, qual penar, o meu!

Voltar os olhos contra tal beleza
não seria nunca minha última fraqueza,
se só olhar teus delicados braços
já me faz aumentar as medidas.

A crítica dos tolos não corrói
o mais criterioso elogio apaixonado.
E só a insensata indiferença da amada destrói
a força misteriosa do amor requisitado.

Não me queixo aos tolos,
nem tampouco aos humildes de amor próprio.
Queixo-me apenas ao destino, minha querida.
Ao destino que nos fez amantes distantes.


Só ao destino.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Um pouco de vida também é bom
Saia e pegue a contra-mão,
só dessa vez.
Que a vez agora é sua.

Um pouco de gozo também vale a pena
Mesmo que à pena da mão,
não vale é ficar enternecido
esperando que ela dê de primeira.

Mas um punhado de dor
também não se joga fora.
É bom aprender a pedir esmola
que a gente ganha um milhão.

A gente ganha um milhão.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Palavras loucas, loucas palavras
vendidas, sentidas ou dadas,
sempre trazem nas costas o peso
do flagelo que lhes desrespeitou a calma.

Sentidas, sentidos, instintos feridos,
muambas, bagamas, quinquilharias,
despachos, bagaços, miúdos distintos,
pirraças, desgraças, belezas esparsas.

O canto do nobre, o choro do pobre.
O filho da mãe e a mãe de uma outra.
O belo exaltado e o feio maquiado.
O perfeito estético ou o surreal.

Que quase nada digam,
que quase nada façam,
que quase nada pensem,
que quase nada expurguem.

Mas fazem fazer algo,
pensam pensar algo,
duelam duelar algo,
matam matar algo.

Discordo das loucuras quais puras, alheias.
Concordo com as loucuras mais putas.
Que a palavra, se louca, já diz,
a palavra, louca, diz ainda mais.

Não há loucura - estou insano!
E a escondo, por detrás do pano.
Não sou plebeu, playboy, nem poeta
da poesia que transcende a realidade.