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sexta-feira, 22 de abril de 2016

Quem pintou estas paredes
agora está em uma gaveta
tingida de escuridão.

Onde a cor da lua não entra
e o chão 'inda mais esfria
a tinta que restou na mão.

Tanto barulho, tanto grito
que ecoou quando era vivo
agora cala na solidão.

Sem voz e, como sempre,
sem juízo -- só de rubra cor
cheio o galão.


Uma canção desconsolada

sábado, 2 de abril de 2016

Se você quiser me ter
me tenha bem devagarinho
no escuro ou no silêncio
no seu seio com carinho

Mas me tenha bem depressa
que a noite agora atravessa
a espessa luz do dia.

Se não quiser esperar
pode vir, venha pra já
que a dor é o prazer de escutar
o cochicho lento das horas
demorando a nos passar

Me atire no chuveiro
com seus raios de cabelos
que atiçam meu paladar.

Venha com a carne mais molhada
de tantos rubros beijos encharcada
como o desejo que se arde em tanto tempo
desdobrado no covil de meus desalentos

Me apague da memória os maus tempos
e me queira mesmo como dantes nos queremos
e nos queira como sempre nós fizemos.