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segunda-feira, 17 de maio de 2021

Há beleza. Basta olhar.
A beleza basta olhar.
A beleza basta ao olhar.
Ao olhar a beleza basta.

 

 

Petrolina, 12 de Maio de 2021

segunda-feira, 11 de março de 2019

Seu Damião recebeu uma proposta.
A velha senhora o visitava outra vez.
Mas dessa encontrou as crianças mais famintas
as paredes mais gastas
o coração mais desolado
e a cabeça mais cansada.

Era muito simples e rápido.
Não haveria dor.
Não havia de haver.
Mais um botão
mais uma explosão
mais um mistério
menos um vivente.

Então eu entrei,
observei
e percebi.

Não era Seu Damião,
era um outro seu.
"Obrigado, Seu Damião",
agradeci ao meu carrasco amigo.

O fogo veio como um fim do mundo
num de fora pra dentro silencioso e seco
não tomou força, minuto nem segundo
só destruiu tudo o que eu tinha pensado.

"Fez certo",
pensei.
"Fez bem",
retifiquei o pensamento.

Não há injustiças neste mundo
e aqui estou eu escrevendo estas palavras tristes.



Minha amiga pedra

terça-feira, 19 de julho de 2016

Uma cabeça
Tem uma cabeça
em cima do telhado
veja só o desmantelo
o corpo não está colado

O corpo
lá não mais está
como é que foi parar
essa cabeça sozinha
em cima da minha cozinha?

Não veio
ninguém procurar
a cabeça que se perdeu;
será que estão todos loucos
ou o louco serei eu?

Não posso
Não vou nada avisar
Se eu digo que tem cabeça
e ela não se avistar
em cima do telhado
[a minha também vai parar

O jeito
é esperar na minha, ligado
pra que se passa alguém atento
e dá por falta do corpo mequetrefe
não seja assim tão solitário
[o meu decapitado tormento


Uma cabeça

domingo, 10 de julho de 2016

Enquanto eu barro as ladeiras da minha casa
a moça passa
o amor perpassa
por entre os cantos das paredes
por entre as praças

Que eu moro nu
eu moro mundo
por entre os prantos
por entre os cantos

Enquanto eu barro as ladeiras da minha casa
eu choro um tanto
eu rio santo

Que deságua nas mesmas ladeiras
nos mesmos rios
nas mesmas madeiras

Enquanto eu barro as ladeiras da minha casa
o amor invade
eu também ardo

Que a vida seca
num descompasso
o infinito
desse percalço

Enquanto eu barro as ladeiras da minha casa

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Quem pintou estas paredes
agora está em uma gaveta
tingida de escuridão.

Onde a cor da lua não entra
e o chão 'inda mais esfria
a tinta que restou na mão.

Tanto barulho, tanto grito
que ecoou quando era vivo
agora cala na solidão.

Sem voz e, como sempre,
sem juízo -- só de rubra cor
cheio o galão.


Uma canção desconsolada