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domingo, 24 de novembro de 2013

Sou eu me escondendo na calada da noite
da noite calada,
aflita e vadia.

Sou eu evitando os seres humanos
menos as bocetas
-- que são as mais inumanas
[partes.

Sou eu escorrendo pelos ecos
mas não há ecos nem nada
nem silêncio.

São os animais correndo a todo o vapor:
fodendo, matando-se e sendo felizes
enquanto há um céu e olhos para ele.

São os mesmos erros, os mesmos acertos
e a mesma volta para tudo aquilo
que não se há de -- nem se quer -- escrever.

Mas não é nada.
Não são nada
nem sou nada.
Só soo.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Depois do dia, a noite.
A noite depois do dia
transforma as cores, o brilho
e a consciência adia.

Mais meia hora
mais meio morta
vai-se assim tornando concreta
a ideia que a mente excreta

nos pulsos, nos pescoços nas veias
nas velhas e cansadas pupilas dilatadas
que não retêm mais o êxtase
-- só a ressaca.

Depois da noite, o dia
até que a verdade nos separe
do disperso e secreto mundo das ideias
e nos leve de vez ao vazio.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

A lua cai
das luzes ao meio
arrebenta a bossa nova
e eu serpenteio
por entre essa fossa
que se esvai
em largas doses.

Do cetim, do léu,
do prazenteiro
amigo rude, infiel,
eu sou alheio.

A tecnologia toda abduz
qualquer traço de insegurança
que seduz
belas damas
formosas damas
em versos de inspiração
que traz o drama.

Não sou mais eu que faço
a pura rima
- é o ferro, é a dor, é o aço
é a serpentina
estrada torpe por que caminha
um bêbado em noite enluarada
[ de Petrolina.

domingo, 15 de setembro de 2013

Existem letras lindas
e palavras mais belas ainda
quando escritas a duras penas
que enfeitam à alma o poema.

Existem versos cheios de rimas,
estrofes de beleza mais pura e mais fina
quais quando cantadas de toda a graça
ecoa pelos ares, erva boa.

Alexandrinos, sonetos e liras.
Metrificados, espaçados e impecáveis.
Embaralhados, confusos e contundentes.

Qualquer verso, qualquer rima,
qualquer estrofe de qualquer cantoria
é sem ela


Qualquer Poesia

segunda-feira, 1 de julho de 2013

O que será que ele pensa
ao me ver feliz assim?
Será sincero o contentamento
ou morre de ciúmes de mim?

Quem será que ele vê
ao me ver assim tão bela?
A mesma que esteve em sua cama
ou não sou mais, eu, aquela?

O que será que sente
um coração tão cruel e rude?
Palpitará ainda seu peito
ou só o meu é que se ilude?

Se houvessem ainda as horas
e houvesse também o outro caminho
buscaria o aconchego em meu seio
ou viveria esta dúvida sozinho?


Dúvida de Mim

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Madrugada aflita
a terra grita
avisto os gritos
de guerra frita

os falos fritos
na madrugada
enluarada
sem sol, sem brava

aos berros ligos
sem mais alistos
meus sujos grilos
em seus mamilos

sem mais nem meio
no cerebelo
n'alma do cabelo
por ser pentelho

não sei q'é isso
sem presunto misto
será que é xisto
q'agora insisto?

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Eu sempre entro por você
por estas suas brechas
com que me cega as vistas
já muito desgastadas por não enxergar cousa alguma.

Entro de novo no nosso passado
percorro todos os vestígios
que são quase nenhum
mas me dão as pistas que prescindo para lembrar você.

Há quase nada
há muito pouco
há uns segundos
e tudo se esvai de novo como se já não houvessem

os mesmos livros
as mesmas rimas
os mesmos desencontros
que, eles sim, são sempre os mesmos com quem me encontro.

Como se 'inda não houvesse
o término
o decrépito
e o insensível prontuário que dita as normas do que já não somos

já não fazemos
não seremos
nunca fomos
e para sempre hemos de ser.

As normas dessas coisinhas
do dia a dia e de tudo
que se sabe ter de ser
mas que eu não quero ter que escrever aqui também.


Eu sempre entro por você

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Calor infernal.
Daquele que corrói as unhas
gastas sobre a mesa
e revoando sob os espasmos de quentes ventos.

Preciso do dicionário.
Não é mais um livro
mas sim informações soltas
que ecoam por entre o calor da vida.

E da morte.
Essa que está chegando
mas não se morre hoje
nem amanhã mais o que já se morreu ontem.

Morreu-se de madrugada.
Durante toda a noite
nos bombardeios à querida cidade
que jaz em paz sob a lua linda e quente.


Um Calor Infernal

segunda-feira, 1 de abril de 2013


Quantas músicas não hei de escrever
até o dia de minha morte
que morrer sem compor música
-- que maldita sorte!
quando o peito é tudo verso
-- é só estrofe.

As palavras sobre e sob os ventos
que meneiam os cabelos
da menina que só se move por dentro
e assim mesmo
mexe com os olhos e olhares,
mexe com os pulsos e sangue e veias,
mexe com estas palavras.

As palavras sobre elas mesmas
que se fazem e se desfazem
-- com rimas ou sem.

Sobre os outros,
sobre nós,
sobre os mesmos.

Sobre antes,
sobre depois
e sobre agora.

Faltam-me notas, de certo,
faltam-me as queixas
das gueixas que pousam sobre meu ombro
suas madeixas
e sobre meu colo
suas anáguas.


Sobre as Palavras

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013


Palavra, oh, maldita palavra minha
por que viestes ao mundo?

Somente a afugentar as vistas alheias
e maltratar aquelas mais desatentas ou sedentas?

Palavra pérfida e escrita
de quem será toda esta ira
que se desconsola através das letras
e invade ventres e âmagos
[no entanto deixando imaculadas as tetas?

Bem sabes que não tens nem dó
nem castidade.

Deitas em qualquer uma das camas
em que há muito nem eu mesmo tenho jazido
És pior que mulher traidora
e 'inda pior que o homem traído.