Páginas

domingo, 19 de junho de 2011

As tripas do cérebro maculando
a alva lividez do azulejo terráqueo.
Foram-se os pensamentos extraterrenos
em esbaforida e incansável autoflagelação.

As formigas se divertindo com os seus restos
- imortais do éter castanho e putrefeito
das ideias que lhe carcomiam as entranhas,
repletas de vontades e desejos irrequietos.

Lápis, canetas, livros, amores e ódios
todos expostos à ferida do último flagelo,
da última perturbada expansão pulmonar,
da mais indistinguível e banal contração cardíaca.

Humanos uniformizados recolhem as suas vísceras
e esquecem, em seu recatado e silencioso recinto,
as tantas viscerais proezas feitas quando em vida
e - sobretudo - o mais belo gesto de morrer.


As Últimas Palavras de um Decrépito Cadáver

Nenhum comentário: