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segunda-feira, 3 de maio de 2010

Não hei de fazer do meu verso
essa prosa infernal que aprisiona,
tortura e dilacera os ufanismos
das mentes extra-terrenas.

Todas essas letras que nos cercam,
ainda que carreguem em si
a mais pura ciência dos fatos,
são d'agora vis e enfadonhas.

O que vale, meus senhores errantes,
é a palavra que se perde ao sair do ser.
Não aquelas que vêm de fora
e tangenciam o cerebelo coordenadas.

Mais valem agora, até as seis da manhã
e o cabaré da próxima esquina,
as experiências de vidas tolices,
embasbacadas, alheias e indomáveis.

Mais valem agora, até as dez da noite
e o perdão da esposa que descansa,
os perjúrios de amor à meretriz
que agora possui maculado, o ventre.

Mais valerá o bom entendimento
do ladrão que outr'ora o aguardara
que o sorriso fecundado postumamente,
ostentoso e perdulário de piegas fanfarronices.

Hei de fazer, eu, uma sétima estrofe impetuosa
- que transgrida as barreiras de todo o escrito
e transcenda à quimera dos sonhadores.
Hei de cantar o amor, que se faz em verso e prosa.

E o sétimo estará também na oitava.
Na perfeição das sonoras notas.
Na melancolia dos dias.

[no vazio d'aqui.

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