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segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Brotam farpas em minha mente,
alheias a qualquer vão de pensamento.
Mesmo de quem se ressente, por sentí-las,
não escapam as alvéolas mágoas da língua.

Uso o verbo no estado da trivialidade
como se a palavra fosse falsa como são
todas as impiedosas saias que resguardam
em si a maldade de um deus invisível.

A visibilidade, tal qual tudo, passa feito raio.
E, em um segundo de abertos os olhos,
passa-se tudo de realidade à ficção:
ávida, em Marte chegou à Terra, a vida.

Em três segundos destruiu tudo em que acreditava.
Resquícios de gentileza e amor-próprio destruídos.
A pá da doce fidelidade, que cavava o fértil terreno do amor,
agora dilacerava o cânio de infeliz indigente, sedenta de sangue.

Os versos marcianóides chegaram à Terra:
não sou humano, não sou terráqueo
- nem poeta.

Vê-se pelo tragar inútil de sonetos descompassados.
É que o coração em terra terráquea de Terra bate fraco.
Batem mais fortes as palmas que aplaudem o meu penar.

À força da dor cedera se ainda estivesse vivo - inútil dizer:
já se faz necessário figurar qualquer outra realidade.
Qual não a dos cabelos desgrenhados e da barba suja.

Vou à esfera de Marte buscar a vida que aqui não encontro.
Mas me acho o de sempre sem-terra, em Marte:
o desespero, eu sou, e não me encontro.

Já engulo as virgens vírgulas que me aparentavam belas.
Traço-as gemido a gemido e descubro sinais gráficos mais [virulentos.

Não eram tesouros, deuses meus.
Eram mágoas do futuro que passou.

Não era para mim, o sopro de vida que me fez fecundar.
Era, sim, para outro marcianóide.

Para outro que engolia as vírgulas sem notar outros sinais.

Para outro que vivia em Terra, vermelho como se vive em Marte.

Para outro que surgia das trevas. E ia à Luz.

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