Páginas

terça-feira, 24 de março de 2009

Ai, amor de criança, amor pueril
Que me queira mal ou me queira bem.
Eu não sei de tua rosa infantil
Quantas pétalas vermelhas ela tem.

Ah! Amor de ódio e de vingança:
Não sei se fere ou se goza
Em nossas caras a repugnância
Do mel fel de ninfa formosa.

Uh, amor em debalde sexual.
Não machuca nem maltrata.
Apenas acaricia a terna flâmula
Que é o prazer de toda alma.

Oh, um amor para cada dor,
que se não se mata, se morre:
Seja o mal o bem que for
- falece da cura a própria sorte.

sábado, 21 de março de 2009

Me desculpe o que eu vou falá
É que lá longe mora uma sinhá
Que em meu peito faz seu habitá
E, às vezes, o coitado se despedaçá.

Mas devo dizer, meu coroné
Que esse ser não é só mulhé,
De peito e bunda já fiz de pé
E agora faço só como ela qué.

Bem sabe que há alguém aquí
Que só de pensar nela fica felí,
Da caridade que dela quí
Fazer meu peito palpitar assí.

Eu sou macho, macho, chó
Mas quando penso que me acho só
Do seio dela sinto falta, e sinto maió
Desejo de me amparar a si, sem dó.

O que eu sinto ainda tá crú
Mas por ela serei sempre nú,
Que se ela gostar de carurú,
Morrerei bem feliz, faustú.



O pernambucano vocálico

sexta-feira, 20 de março de 2009

Eu escrevo como uma flecha
que alveja o teu coração.
Não sou cupido, nem sou deus.
Mas não sou o diabo também
[não.

Eu entro dentro de você
por qualquer orifício que seja.
Mas é só pra te fazer aprender
O que é que o prazer enseja.

Não é ódio, nem amor
- é sexo no elevador.
Que sobe e desce
[desce e sobe
[e sobe e desce
[e geme

Sou a palavra infértil
Que quer dizer mais
que todos os livros.
[subo e desço
[rápido e devagar
[estremeço

quarta-feira, 18 de março de 2009

Eu não queria contradizer
- a mim ou a ti -
mas a verdade é só uma
e é o que eu hei de dizer.

Não é o certo, mas está.
É mais por estética que ética,
qual você não entende
mas sempre será.

Não é seios, mas seio.
Quem quisera ter dois dele
certamente já se arrependeu
pelo crime que ainda não cometeu.

Eu, que só com o meu
- com tantos versos feios -,
já perdi dele o freio
que o seio da moça roeu.

Não é céu, mas não é inferno.
Não sou feliz, mas não sou mudo.
Não sou triste, talvez seja só receio.

terça-feira, 17 de março de 2009

Meio-dia e meio
e meio pêlo no rosto.
Barba.

Meio vazio, meio cheio
e um pensamento na cabeça.
Pentelho.

Meio café-da-manhã.
Meio café na mente.
É um esquente.

Meio que virá comida,
que virá meio virgem.
Delícia.

Todo não é nada
Sem um ou o outro meio
Mas o meio não!

O meio é completo
e é inteiro.
O meio não precisa de todo.

Nem de toldo o meio precisa,
não arrisca, não petisca.
O meio mexe.

Mexe com a mente do meio tolo
e mexe com a mente do meio sábio
Mexendo com a saia da menina.

O meio mede ao meio o nada
Por que nem o nada é todo sem ele.
O meio se acha.

E se perde n'um piscar de olhos.
Que o meio é arisco,
o meio é errado.

Mas também é meio certo
que da metade que se tira a outra
ainda faltam duas metades.

E se do meio for tirando metades,
formar-se-ão novos meios de se fazer
daquele meio um novo meio.

Nem que seja por outro meio,
nem que seja calcinha ou cueca,
nem que seja enxuta ou molhada.

Nem que o meio seja meio-termo
do termo que está no meio
entre esses dois meios.

Que também são dois extremos.
E como sou meio extremo,
deixarei isso ao meio.

A outra metade você rasga e divide
em dois meios.
Que esse meio você guarda.
O espelho mente
O que os outros não sentem.
Que é mais um ser em mim.
Que há mais de mim aqui.

Os olhos vêem
O que a cabeça tresvaria.
Não há algo de nada real
Que seja de alguma valia.

Valha-se apenas a beleza da incerteza
O caos de um amanhã que não virá
E a morte certa de uma vida que há por vir.

Valha-se apenas a estética que há aqui
Veja o podre que eu sou assim
Que eu sou o que de pior há em mim.


Veritate

domingo, 15 de março de 2009

Ei, você, parado aqui.
Por quê?
Ei, você, apressado assim.
Por quê?

Ei, você, sequela sem fim.
Por quê?
Ei, você, não fica aí.
Por quê?

É o seu cérebro infanticida
O culpado por ser homicida
De um potencial suicida
Cansado da vida bandida.

Ei, você, já passou.
Por quê?
Ei, você, se estressou.
Por quê?

Ei, você, não amou.
Por quê?
Ei, você, nem gozou.
Por quê?

É sua precocidade orgástica
Que faz da vida um porre
E essa minha risada sarcástica
Não sabe se você dá ou morre.


A repressão instintiva

quinta-feira, 5 de março de 2009

Deixa eu falar as minhas merdas
Só comigo mesmo
Que o fedor da merda fede
Quando reflete no espelho.

Melhor assim, só álcool em mim
Que dias atrás de morrer
A vida vai ser a mesma merda de sempre.
A mesma merda de sempre humana.

Os humanos são uma raça deprimente.
Eu gosto dos cães,
Olho para os cães jogados às ruas
E eles me olham com pena.

Os coitados, coitados.
Coitados do coitado que sou eu.
Os cachorros são animais bondosos.
Eles sentem pena de mim, quando não medo.

Meus versos estão trôpegos.
Porque falei de humanos, que são merda.
Porque falei de cães e não de gatos.
Os gatos completam o sentido dos cães.

Não haveria sentido para a vida dos cães
Se não existissem gatos.
Ainda não existe sentido para essa merda
Que é ser humano.
[eu deveria ter escrito uma prosa.